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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Este leu o livro por cortesia... Ó no que deu!!!

Bem, antes da resenha, uma nota!!!

Há dezenas de exemplares de A Arma Escarlate, nas seguintes livrarias:

Rio de Janeiro: Galileu, Cultura, Saraiva, Argumento
São Paulo: Siciliano, Cultura
Santos: Martins Fontes, Siciliano

Salvador: Saraiva
Aracaju:  Saraiva     
 


Agora a resenha!!! Adorei a definição da Narrativa!! O Narrador Onipresente!!!
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O ano é 1997. Em meio a um intenso tiroteio, durante uma das épocas mais sangrentas da favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, um menino de 13 anos descobre que é bruxo. Jurado de morte pelos chefes do tráfico, Hugo foge com apenas um objetivo em mente: aprender magia o suficiente para voltar e enfrentar o bandido que ameaça sua família. Neste processo de aprendizado, no entanto, ele pode acabar por descobrir o quanto de bandido há dentro dele mesmo” 

Tem dezenas e dezenas de pessoas falando desse livro. Admito não ser o tipo de livro que eu costumo ler, muito pelo contrário, passo longe das livrarias que os distribuem e das prateleiras com suas inovadoras propostas de reinventar o consumado e o inventado.
Papo é que eu pedi transferência de curso, e na nova turma conheci Renata Ventura, e descobri que ela estava prestes a lançar um livro. Por questões de cortesia e, mais tarde, amizade, resolvi comprar o livro e ler (sim Renata… Foi só cortesia mesmo, do contrario não leria).
O livro? É a historia de Hugo, um garoto de uma favela do Rio de Janeiro, com problemas com traficantes, escola, mãe e tudo que qualquer menino de morro costuma ter problemas, descobre que é um BRUXO e vai para uma escola de magia no Rio de Janeiro.
Ahem? Como?”
Renata partiu de uma entrevista com a J.K. Rolling (autora de Harry Potter) onde ela era questionada sobre a possibilidade de contar sobre uma escola de magia Americana (entenda por EUA) e ela respondeu com um “Não, mas sinta-se a vontade para escrever você mesmo”. Está no livro, foi algo assim, posso estar enganado quanto às exatas palavras, mas foi algo assim mesmo.
Ok… Então ela tem um alvará da J.K. Rolling para trazer Harry Potter pro calor infernal do Rio de Janeiro e tentar sobreviver na base do Estupefaça a tiros de Ak-47 e AR-15… Putz, não pode dar certo. Ou ao menos é o que eu pensei. Quer dizer, Harry Potter é bom porque era um plágio original, agora parece que a originalidade virou a simples superficialidade de recorte geográfico.
É certo que um amigo meu resumiu essa primeira impressão com uma frase genial “Aaaaah! Hahah! Favela Potter!” e sim eu dei boas risadas desse trocadilhinho ridículo (foi mal Renata…).
Só que eu li o tal do Favela Potter( o nome na realidade é A Arma Escarlate)… E fui vendo algumas coisas diferentes onde eu não esperava… E né que eu acabei curtindo?
Bom, como eu já disse tem milhares de blogs fazendo reviews muito boas sobre a história, os personagens e as várias novidades que o livro traz, não vou me ater ao que todo mundo fala, façam uma pesquisa, descubram que ela tá no facebook, no skoob, e que os personagens dela também!
O primeiro, eu percebi que o narrador era estranhamente passional, até achei que poderia ser o caso de um Narrador Personagem ainda não assumido. Já que eu tenho contato com a autora, eu fui lá conferir né. E ela me explicou que não, o narrador é o bom e velho Narrador Onipresente, só que ele tinha personalidade e opinião formada, normalmente alinhado com o Hugo. E isso influencia na leitura, no próprio desenvolver da trama e da maneira que a narrativa é contada. Estratégia empregada por Bioy Casares em La invención de Morel. Com algumas diferenças claro, cada autor com seu estilo. Entretanto entendam, estou falando do Casares!!! É outro nível da coisa! Isso foi com certeza o mais surpreendente para mim, e um ponto fortíssimo na estrutura do livro.
Quer mais? Isso já bastaria para eu ler o livro, mas vou dar mais.
Existe uma extensa pesquisa da cultura brasileira e mundial no livro. Os feitiços  não são em latim, mas em línguas nativo brasileiras (ou sei lá como querem chamar Guarani e as outras línguas dos nossos primeiros habitantes). Lá fala-se de dragão à Curupira e cada qual com uma interpretação da autora em cima da lenda original (e não um ripoff da interpretação de um Tolkien ou Monteiro Lobato da vida). Ela realmente trabalhou, e trabalhou duro, para criar uma salada mista equilibrada e harmonizada de culturas diversas em um ambiente bem  crível (caso você acredite em escolas  de Bruxaria).
Outra coisa bem interessante é a questão social. “Ah, ele fala de pessoas oprimidas do morro, tem uma função social muito importante” pros diabos com as pessoas oprimidas do morro! Ela traz toda mistura cultural de um sudeste bem maior que isso. Tem mineiro, tem capixaba (alias, o capixaba em questão é bem falado nos outros blogs, conseguem descobrir quem é?) e o mais importante, o morro não é um local habitado por tadinhos que precisam de ajuda, é habitado por gente mesmo, que tem problemas, porque lá tem problemas, mas sem essa pose de assistente social. O próprio Hugo é meio revoltado com essas coisas, e dou razão ao moleque.  Então, outro ponto forte é a capacidade que a autora teve de harmonizar coisas muito diferentes, sem ficar no superficial, sem forçar a barra e usando suas cores para criar uma história interessante.
Outro ponto forte, é que o livro realmente vale a pena. O livro não se limita a Favela Potter(repito, o título é A Arma Escarlate). Para falar a verdade a questão da favela é super secundaria durante uma parte considerável do livro e o Harry Potter vai para o espaço rapidinho quando todas as outras culturas emergem. Então, chamemos de Favela Potter (A Arma Escarlate) à primeira vista, mas falando sério, vai muito além.
Ai é claro, falando o que já devem ter percebido (porque eu me empolguei nos últimos parágrafos). Os personagens são envolventes, a história é interessante, a leitura é boa. E aí vem o meu último ponto em algo que vi poucos falando. A leitura é realmente agradável. Os parágrafos tendem a ser curtos e a construção deles é dinâmica. O texto está em constante diálogo consigo mesmo, o que conduz a leitura, sem precisar forçar muito ou se perder demais em longas descrições Tolkenianas sobre a escuridão escura da escura caverna escura de Laracna.
Aí vocês me dizem que eu sou amigo da garota e por isso tô falando essas coisas. Só digo uma coisa, só vão saber se tudo que eu falei confere, lendo o livro… Então vai aí o link para comprar o livro na Saraiva (é só clicar no nome), comprem o livro, leiam, e descubram se eu só to puxando o saco da Renata ou não.
E fim! Para mais, vejam o blog dela http://pixiesnocontrole.wordpress.com

ps. O livro é da editora Novo Século, com o selo Novos Talentos da Literatura Brasileira e também pode ser adquirido no site deles que tá aqui

3 comentários:

  1. Muito boa a resenha! Compartilho muitos dos comentários. Achei particularmente interessante aquele que diz: "O próprio Hugo é meio revoltado com essas coisas, e dou razão ao moleque". Este comentário mostra bem como a narrativa é envolvente e que, muitas vezes, mesmo após a leitura, nos leva a considerar os personagens como entes vivos...

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  2. Cativar um leitor como este é muito mais difícil do que um leitor indiferente. Parabéns!

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  3. :-) Obrigada!

    Só acho que meu narrador não é Onipresente. Onipresente é o narrador que sabe tudo que está acontecendo e que vai acontecer; que sabe o pensamento de todos os personagens, etc.

    Eu chamo meu narrador de Narrador Solidário (ao Personagem Principal). :-)
    Ele só sabe o que o personagem principal sabe, e concorda com ele em tudo que ele está pensando. :-)

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