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quinta-feira, 12 de julho de 2007

Tri, Tetra, Penta, Hexa, Heptalogias

Hollywood não se arrisca mesmo. Podendo faturar bebendo da mesma fonte, por que arriscar? A bilheteria sempre fala mais alto, e a repetição de uma fórmula de sucesso enche muito mais os olhos dos produtores que uma aposta incerta. Mesmo um grande nome pode ter dificuldade em conseguir apoio para um projeto novo: veja o caso de Milos Forman, o genial diretor de Um Estranho no Ninho e Amadeus, nada menos que 2 Oscars de direção na estante, está bancando com dificuldades seu projeto de levar a vida de Goya, o pintor espanhol da época da Inquisição, para as telas, sem a ajuda financeira dos grandes estúdios. Então, o que mais se vê hoje, é mais do mesmo! Muitas das vezes, com qualidade duvidosa.
O triênio 2006 - 2008 está se mostrando pródigo nesta tática, e de várias maneiras.
1.                 Temos os velhos dinossauros voltando à carga: Sylvester Stallone se deu bem com o lançamento de um Rocky Balboa bastante decente, a sexta aparição do lutador, e vem aí com a quarta de Rambo, o veterano do Vietnam; já houve a quarta versão do durão Bruce Willis em seu papel (literalmente) Duro de Matar; e, finalmente, parece que vai sair Indiana Jones IV em 2008 e é bom que saia logo antes que o arqueólogo Harrison Ford tenha que se apresentar usando numa bengala de ossos, ainda mais se vier com seu velho pai (Sean Connery já está com 76 anos de idade). Neste último, ao menos, temos a batuta do genial Spielberg, o que garante a qualidade. Que eu saiba, ainda não se ouve falar de Máquina Mortífera V, acho que Glover & Gibson devem estar, desta vez sim, ‘too old for this shit’, além do que este último deve estar já pensando no próximo filme sangrento que vai dirigir;
2.                 Temos os antigos heróis dos quadrinhos ganhando sobrevida na telona: depois do X-Men, cuja terceira edição (2006) acabou sendo surpreendente no roteiro, veio a terceira aparição do Homem Aranha, para mim decepcionante, após um excelente segundo; e vem aí a segunda missão do Quarteto Fantástico, ao que parece, bem menos bobinha que o da estréia, com a presença do interessante e enigmático Surfista Prateado. Parece que Hulk vai merecer uma segunda chance de reverter a péssima imagem do primeiro. Ainda bem que não pensaram ainda na continuação do Demolidor, uma pena, pois era um de meus HQ favoritos: não há chance de salvá-lo, com a manutenção de Ben Affleck no papel do super-cego herói;
3.                 Temos os personagens contemporâneos, notavelmente representados pelo bruxo Harry Potter e seus amigos (e outros nem tanto) de Hogwart, uma série absolutamente bem planejada: J.K. Rowling já sabia que ia escrever 7 livros com o tema e, depois do sucesso arrebatador dos primeiros 2, veio a natural passagem para a telona, que solidificou o sucesso com uma escolha mais do que adequada do elenco e, hoje, a pottermania já anseia pelo lançamento quase simultâneo do quinto filme e do sétimo livro, numa  jogada de marketing jamais vista; Matt Damon ainda se lambuza com o sucesso de Identidade Bourne, com seu desmemoriado Jason, e já chegou rapidamente a uma trilogia; apesar de ser uma refilmagem de um clássico do anos 60, incluo 11 Homens e um Segredo na mesma categoria contemporânea, eles seguem apostando no fascínio do ladrão-que-rouba-ladrão, apoiado num elenco galáctico, e também já chegaram ao terceiro; finalizando os contemporâneos, posso mudar de meio e incluir a animação Shrek, que já chegou ao Terceiro, agora com o desfalque de Bussunda, que fazia a voz do simpático ogro na versão dublada.
Bem, tudo isso foi para introduzir o real motivo deste papo, também uma trilogia (até agora), também uma aposta fácil dos estúdios numa vaca leiteira, no não-se-mexe-em-time-que-está-ganhando, no vamos-aproveitar-pra-faturar, chamem do que quiserem. Trata-se de Os Piratas do Caribe, dos estúdios Walt Disney. Eu estava levando minha vida sem dar muita atenção a este fenômeno, afinal, ando mais seletivo em meu gosto cinéfilo, achei que já havia passado da idade de perder tempo com filmes juvenis da Disney. Enfim, por insistência de meus filhos, que me lembraram ser o principal pirata interpretado por Johnny Depp (que eu sempre admirei), que ele estava impagável, acabei dando uma conferida. Aproveitamos, então, que lá se vão 3 anos do primeiro (O Pérola Negra) e compramos o DVD por meros R$ 12,00. Assisti há duas semanas. Depois, pedimos emprestado o DVD do segundo (O Baú da Morte) e o assisti há uma semana. Finalmente, assisti ao terceiro (No Fim do Mundo) na telona. Uau, que maratona! Excelente investimento! Diversão garantida!
Os roteiros são fantasiosos, mas complexos. Você sai de cada um dos filmes achando que ficou faltando alguma coisa, mas depois (quando os filhos explicam), descobre que está tudo amarradinho. Os personagens são implausíveis, como uma tripulação de mortos-vivos, que viram caveiras ao anoitecer ou umq outra de seres humano-marinhos que se integram às partes do navio-pirata, comandados por um impiedoso ser com cara de polvo e pata de lagosta que não tem coração (literalmente) e toca órgão com os tentáculos, enfim. O caso é que tudo tão bem feito que você tem que parar para admirar e imaginar aonde a tecnolgia da CG (Computer Graphics) vai chegar. Daqui a pouco, vão dispensar a presença de atores!
           Não, muito longe disso! Um Johnny Depp é insubstituível! É ele a inspiração da série toda. É daqueles atores que recebem um roteiro e constróem um personagem a seu bel-prazer. Foi o que ele fez com seu pirata Jack Sparrow. A começar pelo figurino, que ele montou pessoalmente, passando pelo linguajar, pelo ar permanentemente semi-bebum, pelo caráter ambíguo, ora do lado bom, ora do lado mau, de acordo com a conveniência. Conta-se que quando os produtores viram as primeiras cenas de Jack, tiveram um ímpeto de vetá-las, mas ele fez pé-firme e eles botaram o rabo entre as pernas, para gáudio de milhares de fãs e deles mesmos, que viram nascer ali, um fenômeno de popularidade.
           Depp já tinha uma legião de fãs, sites especializados, uma verdadeira Deppmania. Já era um ator admirado por papéis magníficos como o Don Juan de Marco, Chocolate (não há quem encarne um cigano melhor que ele), Donnie Brasco, O Libertino ou oriundos de sua associação com o diretor cult Tim Burton (Edward Mãos de Tesoura, Sleepy Hollow, passando pelo impagável Ed Wood - o pior diretor de todos os tempos – e chegando ao Willie Wonka d’A Fantástica Fábrica de Chocolate, este último já entre o primeiro e o segundo Jack). Mas foi com Jack que ele chegou ao gosto popular, que ele não buscava, mas certamente está apreciando, sucesso absoluto com as crianças. E com os adultos também. Mais ou menos o que aconteceu com Tobey McGuire, que hoje vive o Homem-Aranha e deixou de fazer aqueles papéis cult que o caracterizavam antes do blockbuster, como em Wonder Boys e em Cider House Rules, que até lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Agora, ele é Peter Parker, esquece o resto. Depois de tantas boas atuações, é com Jack Sparrow que Depp chegou lá, há uma presão enorme da indústria para isso. Ele merecia a indicação.
           Johnny Depp eclipseia os demais atores d’O Pérola,com a honrosa exceção de Geoffrey Rush, que vive Hector Barbosa (que eles pronunciam Barbôussa), o comandante dos mortos-vivos, que participa ativamente também d’O Fim do Mundo. O casal bonitinho, Orlando Bloom (o ferreiro Will Turner) e Keira Knightley (a mocinha Elisabeth Swann) vira coadjuvante. Ao longo da série, seus personagens ganham mais substância, e no terceiro, já dizem ao que vieram, chegam a comandar navios piratas e são bem importantes para o desenrolar da trama. O cara de polvo Davy Jones, que comanda o navio The Flying Dutchman do Baú e no  Fim,  tem suas falas marcadas por terminações intrigantes, graças ao ator Bill Nighly, pouco conhecido, que está ali atrás daqueles tentáculos todos, produzidos por CG. Finalmente, Naomie Harris, que vive a feiticeira caribenha Tia Dalma, é marcante por seu sotaque sinistro. O elenco de apoio é muito bom e é mantido até o terceiro filme.
           Além do desempenho dos seres que aparecem na tela, há que se dar crédito aos que não aparecem. O diretor Gore Verbinski propôs fazer o 2 e o 3 ‘back to back‘ e o produtor Jerry Bruckenheimer aceitou; ao contrário do primeiro, que tinha mais tomadas em estúdio, Gore propôs mais locações externas reais, Jerry aceitou; propôs construir navios de verdade, Jerry assinou o cheque; enfim, deu carta branca. Então, lá se foi 1 ano da vida de 400 ou 500 pessoas, boa parte do tempo em paradisíacas ilhas do Caribe, o que não é de todo mau, mas com as dificuldades de logística e tempo inerentes, como furacões destruindo instalações, maré cobrindo caios inteiros dia sim, outro também. Além dos malabarismos impostos aos atores e dublês, como balançar dentro de uma gaiola de ossos ou duelar em cima de uma roda de moinho de 4 metros de diâmetro rolando ribanceira abaixo, esta última, uma das melhores cenas do Baú. Isso tudo está no ‘Making Of’, aqueles documentários que vêem no DVD, que tiram muito da magia, pois revelam-se os truques por detrás de tudo, ao mesmo tempo mostram que fazer cinema de ação não é nada fácil.
           Truques como o Kraken, o polvo gigante que sai pelos mares destruindo navios sob o comando de Davy Jones. O polvo gigante po(l)voa a imaginação dos amantes das histórias dos sete mares desde Júlio Verne, em seu ’20.000 Léguas Submarinas’, onde aparece pela primeira vez, com esse mesmo nome. E na minha memória de infância, época dos filmes de monstro japoneses, em que volta e meia aparecia um polvo gigante destruindo uma cidade inteira. Aqui, claro que é computação gráfica, da mais alta qualidade, associada a uma destruição real de um navio, por dois tubos gigantes de aço, devidamente editados a posteriori para parecerem tentáculos. Coisa grandiosa!
           Para terminar, um registro de uma ponta magistralmente executada por Keith Richards, dos Rolling Stones, que faz Capitain Teague, o pai de Jack Sparrow, que aparece n’O Fim do Mundo por não mais que dois minutos. Mas, que minutos marcantes! Johnny havia declarado que inspirara o visual de Jack no guitarrista, não sem antes pedir-lhe permissão, claro, já que é seu amigo há 10 anos. Os penduricalhos no cabelo, a maquiagem forte ao redor dos olhos, e, evidentemente, o jeitão de falar. Keith atua maquiado com cicatrizes no rosto, que, associadas com as naturais rugas do astro, lídimo representante do Rug and Roll, deixam-no ainda mais assustador do que já é. Ele aparece como o guardião do Código dos Piratas, para solucionar uma dúvida, e tem um diálogo curto e marcante com Jack, em que é mencionado o estilo de vida do pai, que já passou por todas e ainda sobrevive, alusão clara ao passado de drogas do roqueiro.
           Apesar de O Fim do Mundo ter fechado com as pontas amarradas, deixaram um gancho para uma seqüência, em que todos deverão sair em busca da Fonte da Juventude, um outro mito sempre mal resolvido. E será muito bem-vinda, pois assim, poderemos ter mais Jack Sparrow, mais Barbosa e, porque não, mais Capitain Teague, que, certamente, voltará.

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