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domingo, 25 de fevereiro de 2024

The Quiet Beatle

Este texto é de 2001, 
quando resolvi uma dívida que tinha com George Harrison.
Depois, para adaptar à paciência dos leitores, 
que não aguentam ler textos grandes, 
eu o dividi em 6 posts do meu blog.
Hoje, quando ele faria 81 anos se ainda estivesse entre nós, 
resgato-o na sua forma original.

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Houston - 29 de novembro de 2001





Um amigo demonstrou admiração por George Harrison e me pediu mais informações sobre a carreira solo dele.
Adiantei que era assunto para um longo papo. E para autoflagelações de minha parte.
Trata-se de uma dívida histórica que eu tenho com George.
Já escrevi sobre a carreira solo de Paul, sobre a vida de John, sobre a magia (e mitos) da parceria entre John e Paul, até escrevi sobre um show de George, mas a verdade é que não dediquei tanto tempo a ele como aos demais. E esqueci também de Ringo ... mas Ringo era o baterista ... querido, carismático, importantíssimo para o grupo, como músico e como figura humana.
Não sei da carreira solo de George do mesmo nível que a dos outros. De Paul, eu tenho somente TODOS os discos. De John, tenho a coletânea LENNON, que Yoko produziu em 1990, com 4 CDs maravilhosos coletando tudo o que tinha de bom. E tenho uns outros 3 discos. E de George, bem, de George, antes de dizer o que tenho dele, começo a pagar parte da minha dívida, escrevendo um pouco sobre a carreira do beatle.
Ele era conhecido como 'The Quiet Beatle' já que eram mais os outros que falavam. Mesmo assim, tinha ótimas tiradas, como a piadinha sobre a gravata de George Martin logo na primeira reunião entre eles. Era o mais novinho dos quatro, nove meses mais novo que Paul, e quase 3 anos mais novo que Ringo (sim, Ringo é o mais velho beatle, sabia?). Foi trazido ao grupo por Paul, que estudava na mesma escola que ele. Tão novinho que foi expulso da Alemanha, que proibía menores de idade de tocarem em casas noturnas, que os Beatles usaram para ganhar cancha e experiência, e que experiência! Tímido, era alvo das brincadeiras dos demais, então demorou a encontrar seu caminho. Seguramente, era o mais boa gente dos quatro, disputando o posto pau a pau com o pobre (!!) baterista.
Ele sempre foi mais reservado e voltado para seu interior, daí ter mergulhado de cabeça na cultura indiana. Trouxe a cítara para o rock. E ela abriu, ainda que simplesinha mas magnífica, a canção de Lennon 'Norwegian Wood' no álbum Rubber Soul. A esta altura ele já havia tido seu primeiro grande sucesso como beatle, com' I Need You' no album Help, de 1965.
            Antes disso, a contribuição autoral era pífia: apenas uma canção no segundo álbum With The Beatles, chamada 'Don't Bother Me', que é melhor nem bother you com ela, bem fraquinha. Como cantor, ele estava presente, cantando covers de outros artistas e alguns clássicos de Lennon/McCartney: no primeiro disco Please Please Me, levou  'Do You Want To Know A Secret', e no terceiro, 'I'm Happy Just To Dance With You' que ele até cantou no primeiro filme beatle 'A Hard Day's Night'. Desta maneira, as fãs que pediam a voz de George ficavam felizes.
Finalmente, no quarto ano beatle, veio 'You don't realize how much I need you', no quinto album, Help, juntamente com ‘You Don’t Like Me Too Much’, também muito boazinha. Depois, vieram 'Think For Yourself', 'If I Needed Someone', em Rubber Soul, esta última tocada ao vivo em várias apresentações. 
O ano de 1966 assistiu à maior contribuição Harrison para um disco beatle até então, de três canções em Revolver, a fantástica 'Taxman', a somente ótima 'I Want To Tell You', e a totalmente indiana 'Love You To'. Na primeira, uma fenomenal ironia com relação ao Brittish Lion, que cobrava uma alíquota de 95% sobre a faixa de rendimentos obscenos, aonda os Beatles se encontravam: ' ... It's one four you nineteen for you ... should five percent appear too small, be thankfull I don't take it all'. Na segunda, ele dava o recado 'I want to tell you, my head is filled with things to say' de que sua criatividade estava querendo produzir mais, mas ficava intimidada pela proximidade de dois monstros sagrados, que tinham uma produção estupenda, a pressão era grande. Pelo menos eu interpreto assim! E na terceira, mostra um lado meio amargo 'There’s people standing round, who’ll screw you in the ground, they’ll fill you in with their sins', que pode ou não ser também um recado a seus todo-poderosos pares.
Paradoxalmente, ele quase não se envolveu autoralmente no projeto do ano seguinte, justamente aquele que seria o maior de todos, um verdadeiro marco da música mundial, o álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, compondo apenas a bela e super indiana 'Within You Without You', e gravando-a sem a participação de nenhum beatlezinho sequer, seja nos instrumentos ou vocais. Ele estava meio que cansado de temas mundanos. A letra da canção era uma imersão no self 'Try to realise it's all within yourself no one else can make you change. And to see you're really only very small, and life flows on within you and without you.'
Em Magical Mistery Tour, George inventou a estranhíssima 'Blue Jay Way', cheia de tons dissonantes, não contribuindo lá muito para lista de boas criações harrisonianas. Músicos têm inspirações com as coisas mais banais, e nada é garantia de que sairá coisa boa. Estava ele preso ('stranded' como eles gostam de dizer) no aeroporto de Los Angeles devido a um nevoeiro, aguardando os amigos presos em um congestionamento monstro, pegou o violão e saiu aquela coisa. Não chega a ser a pior dele, mas está lá embaixo na minha lista.
Enfim, veio 1968 e o White Album, quando George trouxe ao mundo 'While My Guitar Gently Wheeps', linda por si só, e arrebatadora por trazer a guitarra de Eric Clapton, a convite do grande amigo George, já conhecido como 'deus' do instrumento, e ainda assim um humilde músico contratado pelos grandes Beatles. George estava inspirado à época e produziu 'Piggies', sarcástica crítica à sociedade e às pessoas que se acham o máximo 'Everywhere there's lots of piggies living piggy lives. You can see them out for dinner with their piggy wives'. E também deu vazão à sua paixão por doces em 'Savoy Truffle', uma verdadeira ode às guloseimas inglesas 'Cream tangerine and Montelimar, a ginger sling with a pineapple heart, a coffee dessert--yes you know it's good news', e por aí vai ... e tudo temperado por um naipe de metais estonteante. Infelizmente, ele fecha sua ótima participação no Álbum Branco com aquela que eu considero a pior canção da carreira dos Beatles 'Long, Long, Long'. Teriam feito muito melhor se tivessem aceito uma outra canção da época das gravações, chamada 'Not Guilty', muito melhor, mas que foi exaustivamente gravada, e regravada, foram mais de 100 takes, pena que foi considerada de qualidade inferior.
O ano de 1968 termina com o desenho de longa metragem Yellow Submarine, cuja trilha sonora mistura clássicos beatle com novas canções do grupo, entre elas 'It's All Too Much' e 'It's Only a Northern Song', de George Harrison. Trata-se da maior contribuição percentual da história Harrison-enquanto-beatle: elas representam 50% do material novo apresentado. Entretanto, elas não eram, eu diria, espetaculares. E elas haviam sido gravadas lá atrás, à época de Sgt. Peppers. Na primeira, ele volta ao culto ao que vem de dentro, dizendo que está impressionado com a beleza externa e, mais importante, interna de uma menina 'When I look into your eyes, your love is there for me. And the more I go inside, the more there is to see'. Já na segunda, mais um claro recado de sua insatisfação com relação aos dois maiorais do pedaço: Northern Songs era a companhia dona dos direitos sobre as canções dos Beatles, e ele não estava lá muito satisfeito com a parte que lhe cabia 'It doesn't really matter what chords I play, what words I say or time of day it is, as it's only a Northern Song!'.
            O ano de 1969 seria o grande ano Beatle de George Harrison, apesar de ter começado com alguns momentos de tensão, durante as gravações de Let It Be (projeto que começara com o nome Get Back), quando ele chegou a abandonar o grupo por uns poucos dias. Desavenças com Paul (registradas em filme) e com John, e a insatisfação com o pouco valor dado ao seu trabalho, haviam chegado a um limite. Mas ele acabou voltando a pedidos, após atendidas umas poucas exigências. Enfim, o episódio até pode ter contribuído para uma reviravolta no estado de coisas. Em maio, finalmente, uma canção sua foi lançada num compacto beatle, ainda que como lado B, 'Old Brown Shoe', rock do bom, mas foi um sinal. E aí veio o disco Abbey Road, último gravado peos Beatles, para mim, o melhor deles, grandes momentos de todos (até de Ringo, veja só!), e dois desses grandes momentos foram propiciados por George. 'Here Comes the Sun' traz uma canção linda, riff inicial num violão marcante, refrão inesquecível (HCTS-It's all right) acompanhado de guitarra com viradas geniais, e letra que exalta o quanto os britânicos festejam a vota do sol naquela terra de clima miserável (como eles chamam) 'the smiles returning to the faces'.
O outro big moment de George no disco Abbey Road merece um parágrafo especial, pois trata-se de 'alguma coisa' especial, ou 'Something' special. Tão especial que mereceu um lançamento em Lado A de compacto beatle, deixando a ótima 'Come Together' no Lado B, e John não reclamou nem um instante,  e soube recentemente que qeu foi dele a sugestçao para que Something ficasse no Lado A (Yoko Ono teria contado a Olívia, ambas já viúvas). Foi a primeira e última ocorrência deste tipo na história. Trata-se de uma das mais regravadas canções beatle (perdendo apenas para 'Yesterday'), inclusive pelo Rei Elvis e o grande Frank Sinatra. Este último elegeu 'Something' como a mais bela canção de amor de todos os tempos! E olha que o 'old blue eyes' entendia do assunto. E, cá entre nós, ela merece a alcunha. 'Something in the she moves attracts like no other lover, something in the way she wooes me...' Eu me arrepio ao escrever este trecho da letra. E reparou no último verbo, 'woo'? Tenho quase certeza que você não conhecia, mas nem precisa dicionário, precisa? '... alguma coisa no jeito que ela me uuuuuuseia'. Esta é uma beleza do idioma inglês: a facilidade com eles substantivam um som, e depois verbalizam, ou seja, colocam ação no substantivo resultante, é uma grandeza. Então, 'She made a woo sound to me!' se transforma rapidamente em 'She gave me a woo!' para logo depois virar 'She wooed me!'. Mágico! Bem, após a pequena digressão anglo-linguística, voltemos ao tema! A melodia de 'Something' é linda, suave, triste, a gente se arrepia já na introdução, de bateria e guitarra, o solo de guitarra de George no meio da canção é o mais lindo da história do rock, e na hora de refrão, a bateria de Ringo é inesquecível. Enfim, uma grande bola dentro de George. A melhor de todas, em minha opinião!
Os Beatles romperam em abril de 1970, mas bem antes daquela data já haviam parado de tocar juntos. Eram apenas visitas ao estúdio, a sós, para dar acabamento em alguma canção. E foi de George, a última visita beatle a Abbey Road, para gravar uma guitarra na canção 'I Me Mine', que faria parte do último disco beatle a ser lançado, Let It Be. Era o dia 4 de janeiro de 1970, e enquanto George dava seus últimos acordes beatle, eu, aqui do outro lado do Atlântico e do Equador celebrava meus 12 aninhos, sem sequer desconfiar que a magia havia acabado!
Bem, o sonho acabou, nas palavras de John, mas parece que o fim dos Beatles foi um grande recomeço para George. E não demorou muito para ele lançar o primeiro disco solo. E foi logo um álbum tripo, só pra deixar claro como sua criatividade estava reprimida junto aos dois monstros sagrados. E o nome da canção título deixa claro o sentimento de página virada: 'All Things Must Pass', ou seja 'tudo passa', mesmo o maior fenômeno da história da música. O álbum, triplo, foi o primeiro naquela configuração a ser lançado por um artista solo, e alcançou rapidamente o primeiro lugar nas paradas, lá permanecendo por várias semanas. É até hoje o maior sucesso comercial de um ex-beatle, ironia do destino. No álbum, 18 composições inéditas, sendo uma em parceria com seu amigo Bob Dylan, além de uma canção do próprio Mr. Zimmerman, que preenchiam as duas primeiras bolachas, e uma terceira com jam sessions. Uma das inéditas foi um tremendo sucesso, e é até hoje, a deliciosa 'My Sweet Lord', expressando sua vontade de estar com seu deus, fosse ele quem fosse. Foi bom que o sucesso foi estrondoso, pois aplacou um pouco a dor de cabeça de uma acusação de plágio em que acabou sendo condenado por cópia não intencional, um atenuante que baixou o cheque a ser feito para 5 milhões de dólares, ao autor da outra canção.
Bangladesh era sinônimo de pobreza, devastação e fome em 1971. Refugiados morriam aos milhares. E aquelas notícias chegavam aos ouvidos de George por observadores privilegiados, seus amigos indianos, em especial Ravi Shankar, o virtuoso que o ensinara a tocar cítara. Ravi pediu de George alguma ajuda para arrecadação de fundos. George compôs uma canção com o nome do país, revertendo toda a receita para o efeito. E, no final de 1971, organizou uma reunião de amigos do rock, que aceitaram tocar num grande concerto no Madison Square Garden, em New York, que ficou conhecido como 'Concert for Blangadesh'. Estiveram lá Eric Clapton, Bob Dylan, Ringo, Billy Preston, Leon Russell e Ravi. Não estiveram lá nem Paul, nem John. Paul,  por uma questão de princípios (!!), já que, se tinham rompido, não havia sentido tocarem juntos novamente, tão cedo assim. Com John aconteceu algo pitoresco: George convidou-o, mas impôs a exigência de que Yoko não viesse. E ele até aceitou, mas depois, Yoko saltou nas tamancas quando soube da combinação. Daí, ficou mais claro quem dava a palavra final. Os shows (foram dois em um só dia) tiveram lotação esgotada. Depois foi lançado o álbum triplo com o conteúdo do show, e um filme no começo do ano seguinte. O concerto foi o primeiro do tipo super-stars-se-reunem-para-tocar-em-benefício-de-uma-causa, um costume que começaria apenas em 1985, como o Live Aid, e depois o Concerto para Monserrat, o Live 8, o Live Earth,  e tantos outros.
Isso se faz com o binômio friends & sensitivity, muito presente no nosso querido George. George tinha grandes amigos, e Eric Clapton era o maior deles. Tanto que admitiu perder sua mulher Pattie para ele. Claro que não foi assim, sem dor. Clapton era absolutamente alucinado por Pattie, e chegou a confessar isso a George. O grande sucesso de Clapton, 'Laila' era uma descarada declaração de amor a ela. A insistência foi difícil de resistir, e como George também aprontava, o casamento acabou. Mas não a amizade entre os dois. Algum tempo depois, George casou-se com Olivia Arias, de origem mexicana, também afeta a causas beneficentes, e que lhe deu seu único filho, Dhani, em 1978, uma cópia xerox sua, pode procurar a foto dele para conferir.
Com os ex-amigos beatles, George manteve uma relação de amor e ódio ao longo dos anos pós-sonho. No começo, uma aproximação com John, quando colaborou em um duelo de farpas musicais entre os dois gigantes, tocando guitarra em 'How Do You Sleep?', onde John acaaaaaba com Paul. Depois, algo aconteceu (pode ter sido o forfait do concerto para Bangladesh) e ele se afastou de John, que morreu sem ter sua amizade, e magoado porque dizia não ter visto uma única vez seu nome citado na autobiografia de George intitulada 'I Me Mine'. Em verdade, foi injustificado pois seu nome é mencionado perto de 10 vezes.
Parte de minha dívida com George está aí: ainda não li esse livro! Preciso lê-lo, até mesmo para descobrir o real motivo do afastamento de John. O resto da dívida é musical mesmo: simplesmente não tenho nenhum disco solo de Harrison, lançados após os dois álbuns triplos citados. Um longo hiato, de 25 anos, levou até adquirir 'Live in Japan', que havia sido gravado em 1992. Até acompanhei alguns sucessos dele como 'Give Me Love' com aquela slide guitar deliciosa, 'All Those Years Ago', uma homenagem à época beatle, e 'I've Got My Mind Set On You', um grande desempenho em uma música que não era dele, mas que se tornou grande sucesso em 1987, e que serviu para dizer que ele estava vivo e bem, após um longo recesso. Soube que ele foi produtor de alguns filmes de Monty Pithon, grupo do qual ele era fã incondicional, colecionador de todos os videos do grupo e grande amigo de Eric Idle (mais um), tendo sido o responsável pelo lançamento de 'A Vida de Brian'. E até mesmo soube que ele esteve no Brasil em 1979 para acompanhar uma corrida de Fórmula 1, sua paixão, mas nem liguei pra isso, pode? É muito pouco para um admirador como eu. Prometo retomar a compra dos CDs antigos.
Voltando ao quesito amigos, a amizade com Paul voltou no começo da década de 90, quando começaram a burilar o Projeto Anthology. Graças ao projeto, pudemos ouvir os Beatles juntos de novo: Yoko entregou aos 3 sobreviventes uma gravação original de John, da canção 'Free As a Bird', Paul e George fizeram letra adicional e, junto com Ringo, um arranjo sensacional, em que se destacava a guitarra de George em toda sua força. Repetiram a dose com 'Real Love', mas somente dando uma cara beatle à canção de John, sem letras adicionais.
Antes daquele reencontro com os amigos do passado, George angariou outras amizades (muitas) no mundo da música e fora dele, e montou com alguns especiais amigos os 'Traveling Wilburys' entre 1988 e 1990, e logo foi batizada 'super-banda'. Não era para menos: juntou George, com Tom Petty, um hit maker com sua banda Heartbreakers, Jeff Lynne, do Electric Light Orchestra, Roy Orbison, que já fazia sucesso antes dos Beatles, que chegaram a abrir shows de sua banda (é dele 'Pretty Woman'), e ninguém menos que Bob Dylan, que dispensa apresentações. Infelizmente, Roy faleceu dois meses após o lançamento do primeiro disco, que foi muito bem recebido por crítica e público. O segundo disco valeu como tributo a Roy Orbison e foi o último da efêmera (e super) banda. O grupo ainda colaborou num disco beneficente Nobody's Child - Romanian Angels, organizado pelas quatro esposas Beatle, com Olivia capitaneando uma inicitiva junto a Yoko, Linda McCartney e Barbara Bach (a ex-Bond Girl e então e até hoje Sra. Starkey) para a gravação de um CD beneficente com renda revertida para as crianças romenas, vítimas da guerra civil. Contribuiram, além dos Traveling Wilburys, com a canção título 'Nobody's Child', o próprio George em um dueto magnífico com Paul Simon, e Eric Clapton (claro), e Elton John, e Bee Gees, e Stevie Wonder, e Guns and Roses (poderosos), e Ringo, e outros menos votados também colaboraram.
Ringo, aliás, merece um capítulo à parte. Ele e George foram, desde o início, bastante unidos, principalmente pelo segundoplanismo do papel deles na banda, ainda que fundamentais para o sucesso. Ringo também abandonou a banda por alguns dias, quatro meses antes de George. Na carreira solo, George foi parceiro dele em seu maior sucesso solo 'Photogragh'  e desconfia-se ter dado uma ajuda em seu maior sucesso beatle 'Octopuss' Garden'. Os casais sempre se visitavam, aliás, numa dessas visitas, George declarou estar apaixonado por Maurren, mulher de Ringo, mas a amizade ficou apenas abalada .... ah esses astros de rock... e os dois partiram para novos relacionamentos, e vida que segue. Ringo ficou ainda mais próximo da nova família Harrison, tanto que Dhani o chamava de Uncle Ringo.
O fim da vida de George foi atribulado. Teve um câncer na garganta em 1997, que migrou para o pulmão, mas foram ambos debelados. Em 1999, sua casa foi invadida por um lunático, George lutou com ele, mas acabou esfaqueado 10 vezes, uma das estocadas passou a uma polegada de seu coração. Felizmente, sobreviveu para gravar e quase terminar seu último disco, o magnífico Brainwashed. Chega a ser uma benção você poder terminar uma carreira com um disco tão bom, leve, com letras elevadas. Infelizmente, não sobreviveu para presenciar seu lançamento, que foi terminado por seu filho Dhani, então com 23 anos. Outro projeto que não viu concretizar-se foi a união da música dos Beatles com o conceito do Cirque du Soleil, idéia dele, que era amigo (mais um) e admirador de Guy Laliberté, o bilionário canadense criador do grupo circense. Felizmente, Olivia tocou adiante o projeto e, com a ajuda de Paul, Ringo e Yoko, nasceu 'Love', um dos mais bem sucedidos espetáculos do melhor circo do mundo, há três anos bombando em Las Vegas. George foi acometido no começo de 2001 por um câncer no cérebro (lembra o nome do disco?), que foi combatido por todas as técnicas possíveis, mas que o acabou levando para outro plano, em dezembro do mesmo ano. Morreu na casa de um amigo (mais um) em Los Angeles, cercado pela família e pelos amigos.
Certamente, ele não estava preocupado com a passagem. Estava serenamente aguardando por ela, pois era elevado espiritualmente. Olivia disse: "He left this world as he lived in it, conscious of God, fearless of death, and at peace.'
Ringo esteve ao lado dele em todos os momentos da doença. Numa ocasião, poucos dias antes do desenlace, Ringo disse que teria que sair para ajudar uma filha que estava com problemas, ao que, prontamente, George ofereceu ajuda, já se levantando da cama, ainda que debilitado pela pesada quimioterapia, e disse: 'If you need me, I can go with you!'

That was George!




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